Na “coluna mensal” deste novembro vamos refletir sobre o que o calendário nos traz. Inicia com o “Dia de todos os santos” seguindo pelo dia de finados que prefiro chamar de DIA DA SAUDADE.
Saudades dos que partiram antes de nós ou simplesmente NASCERAM para outra vida. Acredito que assim é bem melhor.
No nosso dia-a-dia finalizamos algumas coisas e outras nascem nos trazendo sonhos e esperanças. Assim nasce a ADOÇÃO depois de finalizar um ciclo ligado geralmente com a descoberta da infertilidade ou esterilidade. Será um “dia de finados” na vida do casal. Mas será um tempo sem saudades das dificuldades passadas, das dúvidas, incertezas e decisões.
A Esterilidade ou infertilidade “doença quase sempre “intratável” pode estar presente em apenas um membro do casal e o outro precisa renunciar a sua fertilidade. Dói? Sim causa muita dor, revolta, medo, ansiedade, dúvidas. Instabilidade emocional, inferioridade, fracasso. Muitos casais até se isolam, não comparecem nas reuniões familiares onde podem ser cobrados por algo que não podem explicar. Tudo se assenta com o passar do tempo.
Descobrindo a impossibilidade de gerar surge outra questão: adotar ou não adotar? É uma decisão que não é a mesma para todos. Dúvidas, preocupação em satisfazer o parceiro, se forem casal. Discutir muito, conversar francamente e ver se serão capazes de exercitar a paternagem verdadeira.
Importante reflexão se faz necessária: desejam um filho ou apenas encobrir a infertilidade? A presença do filho adotivo irá lembrá-los da dificuldade de gerar? Isso irá repercutir na adaptação do filho e no sucesso do pós–adoção.
É a hora de se pensar na real motivação do casal (se casal). Luto mal elaborado, desejo de substituir o filho não gerado, sentimento de orfandade?
Adotar uma criança não é simples. Idealização excessiva em relação a este filho que precisará ser aceito são questões reais. O pretendente precisa desligar-se do filho não gerado para amar o que virá, renunciar a essa gravidez que não aconteceu ou à descontinuidade genética, reagir para assumir o papel de pai e não tornar a criança depositária de suas insatisfações.
O sonho de um casal é interrompido pela infertilidade ou esterilidade. Fase difícil, diálogo amortecido, ciclo natural esperado interrompido. A mulher eternizada pela ausência da barriga gestacional, o homem pela potência sexual ameaçada, identidades pessoais em conflito representando o ranço de uma época com educação machista. Encarar a realidade: somos todos seres que buscam a felicidade e tentam evitar o sofrimento. Ter coragem, determinação e desejo de encontrar um caminho para serem pais, no caso, a adoção.
Os pretendentes vivem um momento difícil, com sentimentos diversos desde insegurança, ciúme dos casais com filhos, alegria, confiança, tristeza na época de dia das mães, pais, decepção e amor. Será uma longa gravidez psicológica pela espera de um bebê envelhecido na instituição.
A adoção é um projeto de vida: planejado, incorporado em nosso ser.Com muita certeza e com consciência que terá conflitos e alegrias depois que o filho chegar.
Para que a filiação seja real, com sucesso, devem aceitar a ideia que “foram escolhidos” para serem pais pela via adotiva. Por isso o amadurecimento deste desejo é fundamental pois não há possibilidade de uma “arte final” para termos um filho ideal: filho que corresponda ao imaginário construído.
Adotar sem estar preparado, pronto, decidido, irá gerar estresse e o pós-adoção estará fadado ao fracasso. Seguir os passos necessários com calma. Lendo, conversando, analisando, preparando os familiares e amigos.
Os futuros pais tem o dever de se comprometer e cumprir o projeto assumido tanto os pais como o filho que chega tem uma história de vida anterior a esse encontro: um não poderá mudar o passado do outro mas poderão construir juntos o futuro.
Pra a construção de um futuro feliz será preciso que, se forem casal, um não esteja apenas contemplando o desejo do outro.
É preciso aceitar essa criança, filho, que não terá o desenvolvimento imaginado, que chega pela mão do Judiciário e sem manual de instruções. As descobertas mútuas serão diárias. Esses pais serão os responsáveis pela visão que a criança terá do mundo e ela se posicionará na sua vida conforme o que lhe foi transmitido.
Não existem impedimentos para serem pais. Todo ser humano deseja realizar-se plenamente, porém, a vida é um jogo com riscos e oportunidades Transformar o desejo abstrato numa realidade sólida e concreta dependerá dos adultos.
Para uma pós-adoção trabalhosa mas satisfatória, os pretendentes devem estar conscientes que irão construir a cidadania de uma criança, com disponibilidade de doar-se integralmente, atendendo as necessidades básicas e influenciando positivamente na vida desses que esperam ser filhos.
Muitos pretendentes se preparam com entusiasmo e sabedoria. Entendem que precisam ler sobre a arte de educar e sabem que serão modelos na vida do filho. A preparação deverá incluir a família extensa (avós, tios, primos, até os vizinhos) para que haja uma sintonia no projeto em pauta.
Este momento de decidir pela adoção e buscar o caminho para concretizar seu sonho é um momento de transformar a vida para uma nova fase de crescimento e construir um espaço psicológico para acolher o filho que virá!
(Texto construído com fragmentos do meu “PÓS-Adoção” – Juruá)