Agosto chegando e traz junto a comemoração pelo “ Dia dos Pais” Inicio com as palavras dos pretendentes Sérgio e Isabel que sonham com a paternidade/maternidade.
GRÁVIDOS JUNTOS
“Perto dos sessenta anos, estou na fila para adoção. Eu e minha mulher combinamos ficar grávidos juntos. Não queremos uma gravidez comum, até porque não temos mais idade para isso; queremos uma gravidez envolvida e envolvente. Estamos assim há dois anos. A barriga da ansiedade vai crescendo. Contamos segundo a segundo e sofremos com as aflições da espera: o telefone que nunca toca, o convite para os finais de semana compartilhados que nunca chegam. Escolhemos nomes que ainda não são usados, roupas que serão vestidas, lugares da casa que serão preenchidos. Olhamos todas as noites no quarto da nossa criança a cama vazia, mas pronta e acalorada pelos nossos sonhos. Gravidez que é gravidez acontece dia a dia. O parto é agora, sempre e constante. Parimos amor e isso é o passaporte para a felicidade. O resto é vento”.
Com a chegada de um filho se inicia um novo tempo: serão pai e mãe. Emoções fortes, alívio pelo final da espera ansiosa e demorada. Iremos nos amar? Tudo tem um tempo para acontecer. Dúvidas? Serão muitas. Medo? Sim, medo e incertezas chegam junto com o filho, mas com o passar do tempo virá a segurança.
A euforia inicial se transformará em preocupações, erros e acertos, descobertas, até choques com a nova realidade que surge. Exaustão e alegria se fundem. Se inicia a vida de pai e mãe… Para sempre!
Ou ainda Cardoso, V. L e Baiocchi, A. in Ladvocat e Diuana:
Tornar-se mãe ou pai por meio da adoção assemelha-se muito ao processo da gravidez biológica, mas com uma gestação de caráter focado no componente emocional. Seja na elaboração da decepção frente à descoberta da infertilidade, no desconhecimento sobre os procedimentos jurídicos, no enfrentamento de preconceitos e resistências de pessoas próximas, no medo do mito de que “todo filho adotivo é problemático” ou na necessidade de se conscientizar acerca dos processos e especificidades da construção da família adotiva. (p. 55)
Quem é esse PAI? A criança adotiva tem pouco contato com homens e até se assusta com esse indivíduo que será seu pai: um homem com voz grossa, barba, peito peludo e pés grandes.
Sentimentos e emoções se atropelam no coração desse indivíduo que tem seus limites pessoais e que agora é pai, genitor ou progenitor. Terá que gerar sentimentos de paternidade, ser forte, conselheiro e responsável por esse filho. Nova vida, novo colorido, nova visão.
Balancho, ao falar do ser pai hoje, nos brinda com seu pensamento:
Quando se é pai sem dar vida biológica – ao adotar uma criança ou ao receber num novo casamento os filhos da atual parceira – a sua função é aparentemente mais restrita, mas não menos importante. Centra-se, naturalmente, mais nos aspectos social, emocional e educativo, em detrimento do biológico. (p. 22)
Pai é a primeira pessoa mencionada na Santíssima Trindade: “Em nome do Pai e do…”. Quanta grandiosidade!
Sua figura é homenageada no segundo domingo de agosto, quando acontece o “Dia dos Pais”, desde 1953, data atribuída ao jornalista Roberto Marinho para incentivar o comércio e o faturamento do seu jornal.
A notícia mais antiga sobre um cartão para um pai, feito em argila, vem da Babilônia, feito por Elmesu.
O pai atual se entrega mais, se doa e está se libertando da antiga imagem de ser apenas o “provedor” da família. Já mostra suas emoções, participa, leva o filho para a escola, ajuda, é participativo, interage, se envolve, é disponível. Isso está confirmado por Balancho, (p. 51) “Deseja-se presente, marcante, reconhecido. Brinca, trata, dialoga, tudo faz para não ser um elemento externo à vida dos filhos”.
O pai precisa abrir espaço para entrar no coração do filho, terá que aprender a vivenciar seu novo papel. Tal como a esposa, está desgastado pela espera, pela fala jurídica, tem que ter persistência para conquistar e rever suas dúvidas.
Precisa estar preparado para amar e não poderá bruscamente “enquadrar” a criança em sua vida. Percorreu muitos caminhos e obstáculos para adotar e agora deve assumir o lugar real de pai. Terá que aprender a ser ouvinte, modelo de vida, estar atento, ter equilíbrio e disposição.
É apenas um ser humano que teve esperanças e não poderá exigir que seu filho o compense pelos seus possíveis fracassos, nem esperar que ele siga seus passos profissionais.
Os pais não são “amiguinhos” dos filhos, serão pais. Servem para a manutenção do relacionamento familiar, de respeito, confiança presença, paciência e muitas coisas mais. Bons pais não são os mais ricos, os mais estudados, mas aqueles generosos, verdadeiros e que oferecem segurança afetiva aos filhos.
O amor dos pais não é instintivo. Precisa de conquista, investimento diário, aprendizagem, ousadia e enfrentamento do imprevisível.
Sim. O tempo passará. Os filhos crescem e se temos um diálogo saudável na infância ele se prolongará vida afora. Haverá saudades e pelo meio do caminho, quando eles serão adolescentes, nós seremos os que nada sabem e os faremos “pagar os micos”. Foi assim e sempre será!
O filho que chega pela via adotiva não sabe o que é pai e mãe. Para muitos é apenas o “nome” desses adultos, que serão responsáveis por ele. A criança não tem a imagem real do significado e do papel do que é isso.
Os pais devem estar disponíveis para acolher o filho.
Esses novos pais, novos por acabarem de receber o filho, embora na idade real os pais adotivos nem sempre o sejam. Hamad (p. 69), “Depois de uma montanha de anos, o investimento do casal numa criancinha é vivido como um nascer de sol, enfim, como um projeto que vem, de repente, reconciliar com a vida”. Segue dizendo (p. 78) “Há o filho que os pais teriam querido ter, aquele que se teria querido ser, ou não ser, aquele que se desejaria, ou, ainda, aquele de que a esterilidade nos priva”.
Os candidatos à adoção devem ter “uma ideia do lugar que a criança é chamada a ocupar na economia psíquica dos futuros pais” –Hamad (p. 79). Devem entender que as dificuldades existem e isso não significa desistir de seu papel. Terão que lidar com as sequelas dos sofrimentos passados pelo filho, oferecer um coração compreensivo e apoiar.
Superar os problemas com firmeza, paciência e amor. Nada se resolve rápido, num passe de mágica. A mudança de vida, com a vinda do filho, é radical.
Muitos pais adotivos recebem pressão externa sobre sua função adotiva, enfrentam comentários, olhares direcionados para o “filho diferente”. Não se preocupar com as opiniões alheias. Filtrar. Se for preciso, buscar ajuda de profissional qualificado.
Há pais que se ocultam, encobrem seus sentimentos de dúvidas e dificuldades no início da vida adotiva. Ficam temerosos, acham que serão julgados e não procuram auxílio.
As crianças, agora FILHOS, não sabem se comunicar. Sua linguagem é formada por vocabulário pobre e somatizam suas emoções: adoecem. Expressam seus conflitos com dor de barriga, ouvido, garganta e têm pesadelos.
Pais: olhem para seus filhos. Sorrir, cativar, estimular. Aprender a ler a linguagem gestual e o silêncio. Ter sempre a mão estendida para abraçar e o coração aberto para captar e demonstrar amor. Tornar-se pais é gratificante e ao mesmo tempo difícil: educar um ser ainda frágil e concorrer com uma sociedade repleta de assombrações como a droga, a sexualidade doente (DST, HIV e comportamentos sexuais precoces), a violência e incertezas.
Referências
Balancho, L. S. (2012). Ser Pai Hoje – A Paternidade em toda a sua Relevância e Grandeza. Curitiba: Juruá.
Hamad, N. (2002). A criança adotiva e suas família. Rio de Janeiro: Companhia de Freud
Ladvocat, C., & Diuana, S. (2014). Guia de Adoção – no Jurídico, no Social, no Psicológico e na Família. São Paulo: Roca